28 maio, 2010

As conseqüências do calar



Quando os nazistas levaram os comunistas
Não falei nada
Porque eu não era comunista


Quando os nazistas levaram os sociais-democratas
Não falei nada
Porque eu não era social-democrata


Quando levaram os sindicalistas
Não falei nada
Porque eu não era sindicalista


Quando levaram os judeus
Não falei nada
Porque eu não era judeu

Quando vieram me levar
Não restava ninguém pra dizer alguma coisa.


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...para permanecer no Lado Negro da Força basta não fazer nada.

26 maio, 2010

Espontâneo....

Ratificando, ou reescrevendo o texto anterior...

Nada do que se ensina em nossas reuniões deve ser ignorado. Nossa função como igreja é aprender a crescer, é conhecer os caminhos... Oração, meditação,leitura bíblica, devem ser alvos de ensino sim, sempre!

O que eu não gosto muito é da obrigação!

Não posso querer obrigar as pessoas a orar! A ter x tempo em meditação... Coisas assim!

As pessoas precisam ser livres e sendo livres o serviço sairia muito mais excelente!

Com liberdade as coisas são mais gostosas, com gosto de vida e verdade!

Não podemos obrigar ninguém a seguir um padrão nosso! Não podemos fazer agendas e exigir que todos se dobrem a todos os programas que julgamos correto...

Não tenho nenhuma ressalva quanto ao trabalho, nem acho que tô trabalhando demais, que tão exigindo muito... nada disso! Mas, acho que o trabalho não pode ser forçado! Acho que o zelo, a consagração, o labor, a entrega deve ser como foi a de Cristo espontânea... fruto de um coração rendido ao Senhor e não de uma cartilha de regras....

Eu trabalho na Apema porque preciso comer, vestir... abastecer o carro!...

Eu trabalho pra Deus porque minha vida foi comprada por Ele... e minha gratidão, minha divida com Ele é tão alta que sei que toda minha vida é muito pouco para pagar... mas, é o que tenho então... minha vida será entregue a Ele... Por amor! Por gratidão!....

Essa é a diferença!.... Amor!

Amor ao que se faz!

Talvez... com amor as regras sejam menos apercebidas, mas ainda assim, vejo pessoas se matando para cumprir tabus e isso me irrita sobremaneira!

Prazer deve ser a nossa sensação ao Servir a Deus... Alegria!!!

Se eu amo Deus, orar é natural! Não preciso de ninguém cronometrando quanto tempo eu oro!

Se eu amo Deus, meditação é natural! Não preciso de ninguém dizendo que tenho que ler tal coisa...

Se eu amo Deus, estar no culto é natural! Não preciso que ninguém me ligue cobrando minha presença!

Se eu amo Deus, comunhão com os irmãos é natural! Não preciso que ninguém crie ambientes para que isso funcione!

O que eu quis dizer é que se eu amo a Deus... faço o que tem que fazer.... E não preciso de regras para cumprir o IDE... Porque há em mim o Espírito Santo e é Deus quem opera o querer e o realizar!

É essa liberdade que defendo! Liberdade do Espontâneo! Sem cobranças, sem obrigações... é deixar que cada um demonstre com livre e espontânea vontade o quanto foram tocados por Cristo! O quanto se importam...

Lógico, devemos nos disciplinar a fazer as coisas.... mas... as regras podem ser deixadas de lado se a intenção for sincera!!!

O que desejo é ver um trabalho livre! Onde todos desfrutem de tudo! E ajudemos uns aos outros e coisas deste tipo!... Com alegria e singeleza de coração....

Sei que somos chamados a morrer, mas até esta morte tem que ser natural e espontâneo pra ser “verdade”....

25 maio, 2010

Liberdade, Liberdade!!!!!!!!!!!!!!!!!

Após ler e reler o texto da “Mesa Universal” da bacia do Brabo, fiquei com minhas antenas ligada sondando meu coração para ver minhas intenções verdadeiras, para testar minha vida... e não to nada satisfeita. Vou compartilhar com você, se é que existe algum leitor ai do outro lado os motivos pelo qual não estou muito satisfeita com o que tenho vivido:

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Atos 2-46 - ... perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração..

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Este versículo tem saltado as minhas vistas para me fazer ver que há algo errado. Ainda não descobri onde tá o erro, se comigo ou nos meios, mas há algo em nossa vida, e tomo a liberdade de colocar a sua vida no meio do meu texto, principalmente porque sei que mesmo que essa verdade não seja dita ela existe em nosso coração.

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Regras e mais regras, cursos e mais cursos, agenda e mais agenda, exigência e mais exigência, tudo, claro com base bíblica!

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Somos obrigados a irmos ao culto porque reunir-se no templo é bíblico desde os primórdios cristãos... Somos obrigados a nos reunir em reuniões com os “irmãos” porque isso é bíblico, desde o inicio a igreja praticava comunhão... tomamos todo tempo do pessoal em atividades de capacitação porque isso é uma ferramenta necessária para o crescimento da “igreja”, do “reino”... Orar de madrugada também já virou uma obrigação, não podemos simplesmente não aparecer, Jesus orava de madrugada, isso é bíblico, devemos cumprir sem reclamar!!! E ai do rebelde que abrir a boca contra estas coisas, a vara e o cajado já estarão devidamente munidos para disparar versículos e destruir qualquer argumento que alguém seja capaz de elaborar, afinal, contra a bíblia não há argumentos...

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Sabe? Tudo isso tá quase certo... e como já expus, escrever é ótimo porque ninguém consegue te interromper. E até dou a liberdade de alguém criticar e me chamar de insubmissa e rebelde e herege, mas com o blog e o pensamento é meu, vou expor, que jogue a 1ª pedra aquele que desejar, talvez sua critica me ajude enxergar meu erro e quem sabe eu até descubra que vc tem mais razão, ou toda razão?

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Os primeiros cristãos, nossos exemplos, que viviam como nós desejamos viver hoje, que experimentavam de coisas que qualquer um de nós almeja viver, uma igreja forte, poderosa, ungida... tinha somente algo que nós não temos, humn... vou melhorar isso porque não tenho tanta certeza de seus pensamentos quanto tenho dos meus... tinha somente algo que eu não tenho, ou tenho em muito pouca quantidade espontaneidade!

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Eles se reuniam no templo diariamente para perseverar juntos por que? Por que havia corações desejosos de comungar e de orar ao Senhor e de buscar a face de Deus ... eram seus desejos em comum que os uniam, era a vontade de adorar a Deus que os uniam e não a santa convocação de um pastor, discipulador ou líder de célula!

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Eles partiam o pão e comiam juntos, e dividiam seus bens porque amor era algo constante e não porque aprenderam num curso qualquer “900maneiras de praticar o amor” onde a “15º dizia que comer com os outros era o certo a fazer”, eles não se reuniam com pesar na consciência como eu muitas vezes... Mas porque haviam sido circuncidado pelo evangelho de Cristo, a comunhão entre eles era algo espontâneo... Não era necessário nenhum pastor, líder, discipulador, anjo ficar implorando para que alguém faça a caridade de comparecer, ou que ninguém usasse de apelo para convencer de que estar ali no prédio da igreja ouvindo as mesmas coisas ditas de tempos em tempos é o certo a fazer e ninguém para pesar na idéia de quem não tivesse afim!

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Havia algo que não existe em mim, ou pelo menos não existe sempre... “ A alegria e singeleza de coração”...

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As coisas hoje são forçadas. A comunhão é forçada. Os cultos são forçados... temos feito no braço da carne aquilo que ainda não é verdade em nós! Temos confundido a liberdade do evangelho! Temos confundido tudo!

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Eu não agüento mais ter que fazer as coisas deste jeito! Não agüento mais estas atividades, essa rotina de trabalho, essa coisa forçada! Que porre!!!!! Cadê a liberdade????

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Podem me chamar do que quiser, mas não há respaldos bíblicos para eu me submeter neste sistema chato!!!! O evangelho é o que liga pessoas, é o que nos dá gás... A partir do momento que tenho que orar as 4hr30min para agradar meu líder, já perdi a essência da coisa! Se eu trabalho pra mostrar pro pastor já perdi a visão da coisa... se sou obrigada a estar em certas reuniões, porque assim reza a cartilha, não há espontaneidade nisso e se é forçado, já se foi a liberdade e se não tem liberdade é difícil achar que Deus tá na coisa!

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E não to falando de achar o fardo pesado. Desde que conheci Jesus e antes de conhecer o sistema religioso no qual estou inserida, já havia decidido que o seguiria... E minha fome sempre foi... segui-lo... apesar dos meus trancos e barrancos!

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Eu amo célula e estar com as pessoas da minha célula é meu maior prazer... quase sempre também amo estar nos cultos, eu amo estar na presença de Deus, amo orar, ler bíblia e meditar e as vezes meu jejum é bem espontâneo!

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O que me mata é essa coisa de que “eu tenho que fazer”, “ eu tenho que estar”, “ eu tenho que ir”, ...

Essa coisa massificante, esse conjunto de regras chatas é que me irrita!

Eu não encontrei nenhum versículo que Jesus obrigue seus discípulos a fazerem algo... Sabe? Paulo também não! As coisas me parecem muito espontâneas na bíblia... há muita liberdade destes homens em Deus... E por isso havia muita unanimidade entre eles... Hoje, queremos “produzir” as coisas ... Imitar... mas... não tem nada de livre nisso!!!

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Não temos, ou pelo menos não tenho mais lugar pra liberdade!

Toda minha agenda, o que devo fazer, com quem devo orar, quanto tempo devo meditar, o que devo ministrar e até como evangelizar, o que devo saber, como praticar, tudo já me foi empurrado... sem nem me dar chances de retrucar! Minhas horas já estão alugadas e aí de mim se resolver furar “ rebeldia”... insubmissão... independência!

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Isso não tem muito a ver com a verdadeira graça apresentada por Cristo!

Isso não tem cheiro de liberdade!

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Não temos o direito de obrigar as pessoas, nem a nós mesmos a fazer as coisas que julgamos corretas... O livre arbítrio deve funcionar! Não podemos e isso eu já expus muitas vezes querer levar a igreja como uma empresa. Aqui na Apema, não posso faltar as reuniões, aqui tenho dias certos a trabalhar, horários e metas a cumprir... e tudo isso controlado pelo meu gerente...

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Será que o mesmo espírito clerical não tem nos tomado como reino? Há obrigação de estarmos presentes em todas as reuniões, mesmo que não desejamos... Temos obrigação de estar nos cultos... temos obrigação de estar em grupos de GCD... hora pra chegar... e metas...E tudo isso também controlado pelo líder, discipulador...

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Será que não há vida de Deus fora dos padrões adotados pelos gerentes espirituais?

Não sou contra nada do que se prega, mas odeio a forma com que tudo é imposto!

O evangelho, a obra, as coisas de Deus não funcionam na base da obrigação, é tudo graça... é Deus que opera o querer e o fazer...

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E meus melhores momentos com Deus vem quando eu o procuro por livre e espontânea vontade!

A melhor comunhão vem quando por livre e espontânea vontade eu procuro as pessoas e me relaciono com elas...

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O melhor culto é onde meu coração está presente!

O melhor evangelismo é fruto de coração apaixonado, não de regras!

Se eu oro, medito, leio bíblia, faço célula... é por que amo e quero fazer isso! Não por ser regra... não porque alguém pode me excluir da rodinha se eu for diferente, aliás, to muito pouco preocupada com as rodinhas e o que tem a falar de mim....

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To cansada de obrigações!!!!!! Quero ter a oportunidade de fazer por que QUERO!

Chega de pílulas evangélicas, to cansada desta paranóia!!!

Sou livre pra viver pra Deus!!! LIVRE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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Se aceitássemos a liberdade de cada pessoa, saberíamos mais facilmente com quem de fato, podemos contar!!!!!

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Isso é só um desabafo!... ;)

21 maio, 2010


O presidente do Grupo Gay da Bahia (GGB), o historiador e ativista Marcelo Cerqueira, anunciou que deixará o PV e deve ingressar no PT, depois de 10 anos de militância ao lado dos verdes. O ativista justificou sua saída pelo fato de a pré-candidata à presidência Marina Silva ser “dissimulada”, segundo ele, e os verdes estarem se tornando um partido de “direita reacionária”. Cerqueira, que é presidente do grupo desde 2007, aponta posições de Marina contra o aborto, por exemplo, como questões-chave para a sua decisão.

O fato de a senadora também não apoiar a bandeira homossexual incomoda o ativista. “Nós não temos nenhuma declaração dela de apoio concreto à luta dos homossexuais. A declaração que tem é pejorativa, pois ela recusou a bandeira dada pelo companheiro (vereador) Sander Simaglio, do PV em Minas Gerais”, disse.

Para Cerqueira, a religião da pré-candidata fortalece sua decisão. “Não dá para confiar. Na igreja em que ela comunga (Assembleia de Deus) tem o Silas Malafaia, que é um radical e um perseguidor dos homossexuais no Brasil inteiro”, afirmou. “Não posso continuar com gente que convive com esse cidadão e certamente comunga dos mesmos ideais. Para mim, Marina é uma dissimulada”, disse. Procurado pela reportagem do Terra, a assessoria do pastor informou que ele estava viajando.

O ativista contou que ainda não formalizou a posição no partido, mas garantiu que está tudo certo. Na Bahia, ele questiona também as posições do deputado federal Luiz Bassuma, dissidente do PT como Marina, e ferrenho opositor ao aborto. “Ele não é homofóbico de carteirinha, mas no Congresso Nacional se recusou a entrar na frente GLBT. Outros políticos na Bahia, considerados conservadores, entraram, mas ele se recusou”, disse.

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Estava eu como sempre caçando algo útil para ler e exercitar minha mente e eis que encontro esta noticia no site da videira.

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Não sou nenhuma entendedora de política, pra ser bem sincera nem me interesso e no fundo, acho todo político sem vergonha, sem escrúpulos, passivo de pena perpétua. Claro que todo esse pensamento tem bagagem na roubalheiras e nos grandes escândalos que temos presenciado...

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Mas, algo me chamou atenção! Essa noticia não foi gerada porque alguém roubou o povo, desviou dinheiro... nem nada disso!!! A revolta desse “Zé perequeté pink” ai começou unicamente pelo fato da candidata estar se posicionando contra as parnafelhadas ridículas que tem sido enviada a guela abaixo do povão! Toda a revolta deste ser é saber que existe lá dentro uma candidata que não se dobra diante de modismos e nem se dói em criar leis que legalizem o que Deus não legalizou!

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Ele tá bravinho porque ela é contra o aborto e não escreveu e nem apoiou nenhuma idéia que massageasse a idéia ridícula de que o homossexualismo é normal.. e veja... eu amo gays, não tenho absolutamente nada contra estes humanos....

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Há uma linha bem fina entre apoiar e respeitar, entre conviver e se convencer!

Não temos nada contra homossexuais, mas abominamos o homossexualismo!

Não temos nada contra assassinos, mas abominamos o aborto!!!!

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Agora... defender convicções tem preço! Imagina quantos serão persuadidos a não votar nesta pessoa simplesmente porque ela optou manter com firmeza as coisas como são.... quantos a caluniarão simplesmente porque ela decidiu não se dobrar diante da perversão? ....

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Ainda não decidi em quem votarei, mas quero alguém com os padrões desta moça lá em cima!

E nessa, ela ganhou muito a minha confiança!!!!

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Gostaria que vc, cristão, meditasse e ponderasse também estas coisas antes de depositar seu voto em alguém!

20 maio, 2010

Quem sabe o principe virou um sapo!

A ruína das projeções...



Algumas lições eu tenho captado durante estes dias mas uma me mudou de ontem pra hoje, literalmente!


E é sobre projeções que eu quero escrever hoje.


Percebi que eu estava constantemente insatisfeita com tudo e com praticamente todos também. Estava insatisfeita em minha casa, em minha profissão, em meus relacionamentos ... E a minha vida, os meus dias estavam perdendo o “brilho”.


Parecia que todos ao redor estavam dispostos a me ferir, cada um de um jeito, cada um na sua área.


E comecei a ficar realmente muito triste e depressiva com isso... e devido a grande tristeza, explodia por qualquer coisa, caia em lágrimas e dores na alma.... angustiante!


Foi então que ontem resolvi não acusar ninguém e olhar pra ver o que de fato estava errado. Quase sempre quando tudo começa a fluir de modo doloroso, a razão está em nós e não nos outros!....


E meditando em Tiago 3-17:18 percebi sutilmente algo... Eu estava fazendo guerra em busca de paz. E sendo tola! E deixando as mentiras do diabo tomarem minha mente, minhas emoções e me roubar!


Ai comecei a notar, com clareza que o erro não estavam nas pessoas... O erro está em mim. Não eram as atitudes aparentemente errada das pessoas que estavam me machucando, era o que eu esperava delas. Não eram os comportamentos delas em si, mas a minha projeção frustrada é que me machucava tanto!


Não tem como criar um mundo maravilhoso, com personagens perfeitos, onde tudo acontece em plena harmonia! Conto de fadas só acontecem dos palcos da Disney e essa é uma fantasia linda, mas muito, muito, muito distante da minha realidade.


Então em poucos instantes eu desmanchei todo meu mundo artificialmente criado para o meu bem viver e voltei para a dura realidade da vida normal, onde príncipes não existem e onde os palácios nem são tão perfeitos como eu gostaria que fosse...


Mas é o mundo real! Onde as pessoas tem defeitos, qualidades, jeitos e características únicas que me agradam e desagradam, que me fazem sorrir e chorar, mas... acho que to entendendo o que é viver em comunhão com todos. Não é simplesmente empurrar com a barriga (porque dá pra ser assim), mas é encarar com naturalidade tudo o que vem das pessoas, tanto as surpresas quanto as desilusões...


Frustração só ocorre quando nossa projeção é arruinada e as pessoas ao redor não tem nada com nossas projeções. Se elas erram, falham, pisam no pé ou agem da forma que for, não me diz respeito. Vou responder pelos meus atos diante de Deus e não pelo ato de mais ninguém, vou responder pelas vezes que maltratei e não pelas que fui maltratada. Cada um responde por si... E se entenda com Deus acerca do modo como leva a vida.... Quanto a mim decidi de agora em diante que vou aprender a apreciar a preciosidade que cada um traz dentro de si... Sem esperar nada de ninguém a nenhum tempo!


Acho que isso é o certo...

19 maio, 2010

A MESA UNIVERSAL


Tenho desejado ardentemente comer com vocês esta páscoa antes da minha paixão; pois eu lhes digo que não a comerei mais até que ela se cumpra no reino de Deus. Lucas 22:15,16

Toda subversão deve ser encenada: Jesus soube-o quando lavou os pés dos discípulos; São Francisco soube-o quando despiu-se literalmente diante da multidão e adotou uma vida descalça; Gandhi soube-o quando pendurou o terno e sentou-se diante da roda de fiar.

Os integrantes da comunidade do reino, que de tudo se despojaram, só não se despojarão da sua liturgia. Encenarão até o fim a sua mais característica subversão, porque não querem esquecer que é nisso que seu mestre tinha desejado ser lembrado: “perseverando todos os dias no templo, e partindo o pão de casa em casa, comiam com alegria e singeleza de coração”.

E, ao contrário do que nos tornamos habituados a pensar, a porção litúrgica da vida comum reside na segunda porção desse verso, não na primeira; está na mesa compartilhada e não no Templo. Como se verá, “perseverando unânimes todos os dias no templo” não quer dizer muito além de asseverar que os primeiros discípulos continuavam sendo unanimemente judeus. Nenhum deles encontrou incompatibilidade entre a vitalidade do arrependimento e a herança da espiritualidade judaica. Nenhum deles julgava ter adotado uma nova religião; não se consideravam “novos convertidos”, e com toda a probabilidade se mostrariam muito indignados se alguém sugerisse o contrário. Como estavam sempre juntos, e como estavam certos de que terem se dobrado à persuasão de Jesus não interrompia o fato de serem judeus – o próprio Pedro havia, afinal de contas, enfatizado em seu discurso o coração judaico de Jesus e da sua obra – continuavam a encontrar-se todos os dias no Templo de Jerusalém.

Não era em sua presença no templo que sua subversão era encenada, mas no impensável que faziam depois, comendo juntos de casa em casa com alegria e simplicidade, como quem habita um ensolarado final feliz ou uma incessante festa de casamento.

Sentar-se à mesa com alguém, em praticamente todas as culturas, é ato que pertence ao domínio do sagrado; em algumas tradições “comer juntos” envolve mais tabus, trâmites e privilégios do que dividir o ato sexual. Não é à toa que “companheiro”, que se origina no latim companis/cum panis, signifique “aquele com que se divide o pão”: comer com alguém é repartir uma plena horizontalidade, é reconhecer sem reservas uma identidade compartilhada. Dividir o pão é fundir a alma.

É justamente por isso que, em praticamente todas as culturas, a hora da refeição não é algo que se divida com todos. Convidar para comer esteve, desde sempre, associado a afinidade e critério. A mesa de cada um está por definição reservada para os amigos mais íntimos, para as relações mais bem lubrificadas, para os que habitam as proximidades do coração.

Não ignorando o poder dessa linguagem, Jesus tratou de subvertê-la, contando muitas histórias em que os convidados do banquete não são os nobres (com que todos queriam se ver associados) ou os amigos do anfitrião, mas os marginais, os despossuídos, os que não ocorreria a ninguém convidar para jantar. A aprovação de Deus, esclarece o rabi, é um banquete a que os ricos e poderosos não encontram ocasião de comparecer, mas que é revertido gostosamente em favor dos bêbados na sarjeta, das prostitutas da esquina e de todos que a vida largou desatenta pelo caminho.

Jesus encenou ele mesmo, e do modo mais exuberante, a provocação que suas parábolas prometiam. Porque, enquanto João Batista se mantinha no deserto comendo como um faquir, Jesus frequentava jantares e festas, fornecia bebida para banquetes de casamento e angariou (provavelmente com alguma justiça) a fama de comilão e beberrão1. Jesus não só sentava-se com pecadores e prostitutas, mas comia faceiramente com eles – e somente a segunda coisa era considerada mais inaceitável do que a primeira. Se comer é repartir horizontalidade, como suportar um homem de Deus que ousava partilhar a sua mesa – e portanto a sua identidade – com um bando de pecadores sem qualquer mérito?

A resposta o rabi forneceu muitas vezes e de muitas maneiras, mas resume-se sempre ao mesmo ponto: a ninguém Deus recusa um lugar à sua mesa, pelo que a ninguém deveríamos recusar lugar à nossa. Ser santo como Deus é santo não é adotar a suposta distância que Deus estabelece entre si mesmo e o mundo, mas adotar a ausência de critério que Deus emprega em sua relação com todos. Arrepender-se é escancarar as portas da vida e instituir o Grande Banquete Ininterrupto, em que todos os homens servem e onde todos os homens são bem-vindos.

Conhecedor do potencial redentor desse inæstimabile sacramentum, Jesus tratou de trazê-lo para o centro da sua mensagem, tornando o fulcro mais essencial da sua memória: façam isso todas as vezes que comerem e beberem; façam isso em memória de mim. A comunidade do reino não ignora que a mesa é local sacrossanto e seletivo; apenas confessa que, justamente por essas razões, só é concebível se for universal.

O grupo de romeiros de Pentecostes passa portanto a encarnar, inaugurando-a, a insubordinação com a qual o movimento cristão seria associado ao longo dos seus primeiros séculos de história: a da multidão que reúne-se em suas casas para comer – sem aplicar as mais básicas distinções entre ricos e pobres, nobres e destituídos, puros e maculados, homens e mulheres, amigos e desconhecidos2.

Essa mesa universal resgata, simultaneamente, os aspectos de transgressão e tabu com os quais o ato de comer está associado em muitas culturas, particularmente a judaica – e ao mesmo tempo abole e transcende esses aspectos.

Nenhum judeu ignorava que comer era ato tão sério e prenhe de consequências que ocasionara a expulsão de Adão e Eva do paraíso; ninguém desconhecia que comer era ato tão sacrossanto e cercado de responsabilidades que deixara na Torá a marca de inúmeras leis e interdições. Na cultura judaica a santidade, a transgressão e a identidade eram definidas em grande parte pelo que o judeu devia abster-se de comer; essa obediência com respeito à continência alimentar era para ser entendida como postura corretiva e testemunhal, sustentada em puro contraste à deficiência demonstrada por Adão e Eva nessa área – bem como a suas terríveis consequências.

Certo da ressonância dessa tradição, Jesus tomou providências para garantir que a mesa universal que legava aos seus seguidores se mantivesse, também nesse campo, celebração de uma atordoante subversão. Porque, ao fundamentá-la ao redor do consumo simbólico do corpo e do sangue de um ser humano, o fundador do Banquete Ininterrupto não poderia ter escolhido símbolos mais incômodos e provocadores.

No judaísmo o canibalismo era tamanho tabu que a Torá omite-se até mesmo de nomeá-lo como interdição, e Jesus não se esquiva em ordenar peguem e comam, este é o meu corpo; o consumo de sangue era ostensivamente proibido, do que dão testemunho as recursivas medidas instituídas para livrar de qualquer traço de sangue a carne destinada a consumo humano, e Jesus declara peguem, bebam, este é o meu sangue. E insiste, simplesmente insiste, que essa transgressão ritual deve ser repetida “todas as vezes que vocês comerem e beberem”.

Todas as vezes que comiam e bebiam, portanto, os integrantes da comunidade do reino “encenavam a subversão” que seu precursor havia encarnado em todos os aspectos. Alimentavam-se continuamente, por assim dizer, de tudo aquilo que representavam a pessoa, a postura e o destino de Jesus.

Beber o corpo e o sangue do Filho do Homem nessa transgressão litúrgica unia-os ao homem de Nazaré, mas também reportava-os simbolicamente a Adão e Eva e libertava-os deles. O consumo do fruto proibido na transgressão do Éden levara os homens a ganhar o mundo, mas haviam na transação perdido a Deus e uns aos outros; o consumo do corpo e do sangue na transgressão cristã levava os homens a reconquistarem a si mesmos e uns aos outros, e nessa comunhão restauravam o mundo e reconquistavam a presença divina. Passavam a habitar, e em suas próprias casas, o fulcro temporal e geográfico, parcial e ininterrupto, que Jesus chamara de reino de Deus.

O meio é a mensagem, e o meio apontado por Jesus para indicar sua mensagem foi o sonho de um mundo em que todos os homens comeriam juntos, celebrando continuamente uma simbólica transgressão e encontrando nisso uma comunal redenção. A mesa universal é sua liturgia.

E quando a horizontalidade for completa, quando ninguém for excluído, quando todos servirem a todos e todos estiverem servidos, então horizontal e vertical se fundirão sem qualquer distinção, e Deus será visto à mesa entre os homens. O mundo estará restaurado, e será o reino de Deus.

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NOTAS

1 - Na verdade é apenas graças a Jesus que as duas palavras aparecem no Novo Testamento. O livro de Provérbios aconselha: “Não estejas entre os beberrões de vinho, nem entre os comilões de carne”, e em Deuteronômio o filho “comilão e beberrão” é apedrejado até a morte.

2 - A princípio o movimento cristão fez pouco além de escandalizar o mundo com sua obscena falta de critérios. O romano Celso, escrevendo 180 anos depois de Cristo, lamentou: “ Por que esta preferência por pecadores?” As reuniões cristãs, que ficaram conhecidas como “festas de amor”, ganharam entre seus detratores a fama de orgias sexuais, porque poucos conseguiam conceber outro motivo para homens e mulheres de diferentes origens compartilharem voluntariamente do mesmo espaço. Apenas o desejo sexual era considerado universal o bastante para derrubar, mesmo que temporariamente, todas as barreiras sociais.

(Plagiado de Bacia das Almas - www.baciadasalmas.com.br)

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15 maio, 2010

Sobre Cristãos... ou quase isso...


A questão é simples. A Bíblia é muito fácil de entender. Mas nós, cristãos, somos um bando de vigaristas trapaceiros. Fingimos que não somos capazes de entendê-la porque sabemos muito bem que no minuto em que compreendermos estaremos obrigados a agir em conformidade. Tome qualquer palavra do Novo Testamento e esqueça tudo a não ser o seu comprometimento de agir em conformidade com ela. "Meu Deus", dirá você, "se eu fizer isso minha vida estará arruinada. Como vou progredir na vida?".
Aqui jaz o verdadeiro lugar da erudição cristã. A erudição cristã é a prodigiosa invenção da igreja para defender-se da Bíblia; para assegurar que continuemos sendo bons cristãos sem que a Bíblia chegue perto demais.
Ah erudição sem preço! O que seria de nós sem você? Terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo. De fato, já é terrível estar sozinho com o Novo Testamento.
Antes de falar sobre Jesus, deixe-me falar sobre os que afirmam que o seguem sem saber do que estão falando.
Deixe-me falar de mim.
Sou um farsa, um patife, um mentiroso e um canalha. Sou também um santo em muitos sentidos, mas isso apenas distorce a essencia da mensagem que eu deveria estar transmitindo. Jesus evidentemente não veio para os santos, os intocados, os poupados, os intocáveis, os que merecem uma categoria a parte. Sua paixão é pelos mistos, os imundos, os misturados,os irremediáveis, os caídos, os violados,os atormentados, os não resolvidos. Somente a parte de mim não contaminada pelo meu vício de comportar-me como um santinho pode beneficiar-se do impulso libertador da mensagem de Jesus.
Eu, por minha vez, não tinha nada que estar passando a imagem de um santo. Minha tarefa é transmitir a marca de Cristo, não a imagem de santo - e definitivamente não é a mesma coisa. Em primeiro lugar, a imagem de santo é tão rasa que qualquer canalha pode passá-la para os outros, mesmo os canalhas menos sutis, como eu. Segundo, nada está mais distante da essencia da mensagem de Cristo que gerar nos outros a impressão de que é preciso ser santo em primeiro lugar para poder beneficiar-se adequadamente da gentil onipresença do Reino e da graça. Na verdade, parte do escândalo da mensagem do evangelho está em sua ousadia de afirmar que ser santo não beneficia ninguém, nem mesmo quem é. Sua ousadia em afirmar que Jesus não tem nada a dizer ao que não precisa dele.
"Os sãos não precisam de médico" não quer apenas dizer, como estamos acostumados a pensar, que todos são doentes e por isso precisam de Jesus; também quer dizer que as partes de nós que creem não precisar de intervenção, ou agem como se não precisassem, estão irremedialmente perdidas.
(Bacia das Almas - Paulo Brabo)

07 maio, 2010

Deixar é Amar...

DEIXAR É AMAR

(Max Lucado)

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"Mulher, eis aí o teu filho." - João 19.26

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O evangelho está cheio de desafios retóricos que provam a nossa fé e resistência contra a natureza humana.

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"Mais bem-aventurado é dar que receber." 1

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"Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; quem perder a vida por minha causa, esse a salvará." 2

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"Não há profeta sem honra senão na sua terra e na sua casa.”3

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Mas nenhuma declaração é mais difícil de entender ou amedrontadora do que a de Mateus 19.29: "E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe (ou mulher), ou filhos, ou campos, por causa do meu nome, receberá muitas vezes mais, e herdará a vida eterna."

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A parte sobre deixar casas e propriedades posso compreender. É a outra parte que me faz estremecer. A parte sobre deixar pai e mãe,dizer adeus aos irmãos e irmãs, dar um beijo de despedida num filho ou filha. É fácil comparar o discipulado com a pobreza ou a desgraça pública, mas deixar minha família? Por que devo estar disposto a deixar meus entes queridos? Pode o sacrifício ficar ainda mais sacrificial do que isso?"

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"Mulher, eis aí o teu filho."

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Maria está mais velha agora. O cabelo nas têmporas ficou grisalho. As rugas substituiram sua pele jovem. Tem as mãos calosas. Ela criou vários filhos e agora contempla a crucificação do primogênito.

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Ficamos pensando quais as lembranças que lhe passam pela mente enquanto testemunha a tortura dele. A longa viagem para Belém,talvez. Uma caminha de bebê feita de palha. Fugitivos no Egito. Em casa em Nazaré. Pânico em Jerusalém. "Pensei que estava em sua companhia!" Lições de carpintaria. Riso à mesa do jantar.

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E aquela manhã que Jesus chegou cedo da oficina, seus olhos mais firmes, sua voz mais direta. Ele ouvira as notícias. "João está pregando no deserto." Seu filho tirou o avental, limpou as mãos e com um último olhar despediu-se da mãe. Ambos sabiam que nada mais seria igual de novo. Naquela último olhar eles compartilharam um segredo,cuja extensão era demasiado penosa para ser repetida em voz alta.

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Maria aprendeu naquele dia que o sofrimento vem com a despedida. A partir daquele momento teria de amar o filho à distância; na periferia da multidão, do lado de fora de uma casa cheia, na praia do mar. Talvez ela até estivesse lá quando foi feita a promessa enigmática: "E todo aquele que tiver deixado... mãe... por causa do meu nome."

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Maria não foi a primeira a ser chamada para despedir-se de seus entes queridos por causa do reino. José foi chamado para ser órfão no Egito. Jonas para ser um estrangeiro em Nínive. Ana levou seu primo-gênito para servir no templo. Daniel foi enviado de Jerusalém para a Babilônia. Neemias de Susã para Jerusalém. Abraão recebeu ordem para sacrificar seu próprio filho. Paulo teve de despedir-se da sua herança. A Bíblia está unida por trilhas de adeuses e manchada por lágrimas de despedida.

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De fato, parece que adeus é uma palavra que prevalece no vocabulário cristão. Os missionários a conhecem muito bem. Os que os enviam também a conhecem de sobra. O médico que deixa a cidade para trabalhar no hospital na selva já pronunciou essa palavra. O mesmo acontece com o tradutor da Bíblia que mora longe de casa. Os que alimentam os famintos, os que ensinam os perdidos, os que ajudam os pobres, todos eles conhecem o termo "adeus".

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Aeroportos. Bagagem. Abraços. Luzes de ré sumindo na distância. "Diga até logo para a vovó." Lágrimas. Estações rodoviárias. Cais marítimos. "Adeus, papai." Gargantas contraídas. Balcões de passagens. Olhos molhados. "Escreva!"

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Pergunta: Que tipo de Deus colocaria as pessoas em tal agonia? Que tipo de Deus lhes daria famílias e depois pediria que as deixasse? Que tipo de Deus lhes daria amigos e depois pediria que lhes dissesse adeus?

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Resposta: Um Deus que sabe que o amor mais profundo não é construído sobre a paixão e o romance, mas sobre uma missão e um sacrifício comuns.

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Resposta: Um Deus que sabe que somos apenas peregrinos e que a eternidade está bem perto e que qualquer "Adeus" é na verdade um "Te vejo ama-nhã".

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Resposta: Um Deus que também fez isso. "Mulher, eis aí o teu filho."

João abraçou Maria um pouco mais apertado. Jesus estava pedindo que fosse o filho que uma mãe precisa e que de certa forma ele não fora.

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Jesus olhou para Maria. Sua dor tinha uma origem muito mais profunda que os pregos e espinhos. Em seu olhar silencioso eles trocaram de novo um segredo e ele disse adeus.

06 maio, 2010

Maravilhosa Liberdade!


LIBERDADE!

“Que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo, e que deixes livres os quebrantados, e despedaces todo jugo...” ISAÍAS 58:6

“Liberdade não é meramente tirar as correntes de alguém, mas sim viver de uma forma que respeita e aumenta a liberdade dos outros”.

NELSON MANDELA

Não temos o direito de restringir a liberdade de quem quer que seja. O mandamento de Deus é claro: “Não oprimirás o teu próximo, nem o roubarás” (Lv. 19:13). Toda opressão é roubo, pois é privação da liberdade, um dos mais importantes direitos humanos.

A presença do Espírito Santo visa disseminar a genuína liberdade no Mundo, pois “onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade” (2 Co.3:17). Não apenas liberdade no sentido de “ir e vir”, mas liberdade no sentido de não viver debaixo de jugo algum, nem espiritual, nem emocional, nem social.

Toda opressão é contrária à justiça do Reino de Deus. Ninguém tem o direito de oprimir seu próximo, ou explorá-lo, servindo-se de seu trabalho, sem lhe dar paga alguma.

O que mantém as pessoas sob opressão ou escravidão é a falta de conhecimento. Somente o conhecimento da verdade é capaz de produzir plena liberdade. Foi Cristo quem anunciou: "Conhecereis a verdade, a verdade vos libertará". E Ele mesmo Se identifica como "a verdade". É por Ele que conhecemos nossa condição espiritual e somos desafiados a transcendê-la. Devemos, portanto, conhecer, não apenas à Sua pessoa, ou à Sua doutrina, mas também à Sua obra, e ao Seu modus vivendi.

Sua morte vicária na Cruz foi a carta de alforria assinada com o Seu próprio sangue. Estamos finalmente livres! Ninguém mais tem o direito de dominar-nos a seu bel-prazer. Infelizmente, nem todos têm acesso a esta poderosa verdade, e por isso, aceitam passivamente a exploração e a servidão.

Imagine que depois de tanto tempo que a Lei Áurea foi assinada pela Princesa Isabel, ainda haja gente trabalhando em regime de escravidão em nosso País. Esta é uma triste realidade. Pessoas trabalham por comida e estadia. São exploradas, privadas de sua dignidade, e se não produzirem o exigido por seus senhores, são submetidas aos mais severos castigos. O fato é que tais “senhores” se aproveitam da ignorância de seus “criados”, para mantê-los sob seu ferrenho domínio.

A morte de Cristo atribui dignidade a todo ser humano independente de raça, cor, religião ou sexo. “Cristo nos libertou para que sejamos de fato livres” (Gl.5:1a). Não podemos nos colocar “debaixo de jugo de escravidão”.

Essa liberdade deve ser partilhada com nosso semelhante. E isso fazemos quando proclamamos “liberdade aos cativos” (Is.61:1b), e trabalhamos para que toda estrutura injusta de domínio seja denunciada e desbaratada.

Paulo nos informa que o fim desta Era virá quando Cristo “tiver entregado o reino a Deus, ao Pai, e quando houver destruído todo domínio, e toda autoridade e todo poder. Pois convém que ele reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo dos seus pés” (1 Co. 15:24-25). E será através da ação profética/social da igreja, que tais estruturas serão destruídas.

Isso nos coloca numa posição marginal/subversiva neste mundo. Estamos no ramo de demolição de estruturas de poder. Não as demolimos com armas carnais, e sim espirituais e poderosas em Deus (Confira 2 Co.10:4). Não precisamos nos engajar numa luta arma, numa revolução militar, política ou ideológica. As estruturas de poder ruirão depois que forem fragilizadas pela infiltração da verdade. Resistência, denúncia, profetismo, ação social e discipulado são algumas das munições usadas por nossas armas espirituais.

Não podemos nos aliar aos poderes deste mundo, ainda que estejamos, por ordem divina, submetidos às autoridades constituídas. Devemos lealdade unicamente a Cristo e ao Seu Reino. Quando nos aliamos aos poderes deste mundo, estamos traindo nosso chamado. Vale aqui a exortação do salmista:

“Até quando defendereis os injustos, e tomareis partido ao lado dos ímpios? Defendei a causa do fraco e do órfão; protegei os direitos do pobre e do oprimido. Livrai o fraco e o necessitado; TIRAI-OS DAS MÃOS DOS ÍMPIOS. Eles nada sabem, e nada entendem. Andam em trevas”. SALMOS 82:2-5a

Paulo faz coro com esta verdade, ao declarar que “os poderosos deste mundo” estão destinados a serem aniquilados, pois nenhum deles conheceu a verdadeira sabedoria, “pois se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da glória” (1 Co.2:6,8). Por isso, o salmista diz que “eles nada sabem, e nada entendem”. Aliar-se a tais poderes, é o mesmo que aliar-se a algo destinado a ser completamente aniquilado. Devemos, como povo de Deus, optar pelos oprimidos, pelos fracos, pelos explorados, pelos excluídos, pelos pobres, pelas minorias.

Até quando as igrejas cristãs se manterão aliadas aos poderosos? Até quando aqueles que alegam representar Cristo na Terra vão continuar se promiscuindo com os opressores? Não há meio termo. Quem deseja viver e propagar a justiça do Reino, tem que fazer uma opção pelos oprimidos, e não pelos opressores. Tal qual Cristo, devemos optar pelos excluídos, os menos favorecidos, e trabalhar para tirá-los das mãos dos seus algozes.

O sábio rei declarou: “Informa-se o justo da causa dos pobres; mas o ímpio não quer saber disso” (Pv. 29:7). O ímpio está sempre “lavando as mãos”, como fez Pilatos. Ele prefere omitir-se, em vez de tomar posição em favor dos menos favorecidos.

Tanto os profetas, quanto os apóstolos, aliaram-se às camadas mais necessitadas, em vez de se aliaram aos poderosos. Por isso, eram considerados subversivos, e foram duramente perseguidos.

Contrário a qualquer tipo de discriminação social, Tiago escreve: “Se na vossa reunião entrar algum homem com anel de ouro no dedo, e com trajes de luxo, e entrar também algum pobre andrajoso, e atentardes para o que tem os trajes de luxo, e lhe disserdes: Assenta-te aqui em lugar de honra, e disserdes ao pobre: Fica aí em pé, ou assenta-te abaixo do estrado dos meus pés, não fazeis distinção entre vós mesmos, e não vos tornais juízes movidos de maus pensamentos? Ouvi, meus amados irmãos: Não escolheu Deus aos que são pobres aos olhos do mundo para serem ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam? Mas vós desonrastes o pobre. Não são os ricos os que vos oprimem e vos arrastam aos tribunais?” (Tg.2:2-6). Fica claro nessa passagem que o próprio Deus prioriza o pobre, o oprimido, o necessitado.

Temos a obrigação de livrar o fraco e o necessitado. Alguém precisa falar-lhe da verdade libertadora do Evangelho. Alguém tem que contar-lhe da dignidade que Cristo lhe conferiu. “Glorie-se o irmão de condição humilde na sua alta posição. O rico, porém, glorie-se na sua insignificância, porque ele passará como a flor da erva” (Tg.1:9-10).

Uma revolução está a caminho, mas que não demandará derramamento de sangue, nem violência. Será a revolução do amor, da paz e da justiça.

“Assim diz o Senhor: Exercei o juízo e a justiça, e livrai o oprimido das mãos do opressor. Não oprimais mais ao estrangeiro, nem ao órfão, nem à viúva, e não façais violência, nem derrameis sangue inocente neste lugar.” JEREMIAS 22:2

Violência gera violência. Não se apaga fogo com fogo. Devemos transformar nossas armas em arados, e qualquer desejo de vingança em perdão. A profecia messiânica diz que Cristo “exercerá o seu juízo entre as nações, e repreenderá a muitos povos. Estes converterão as suas espadas em arados e as suas lanças em podadeiras. Não levantará espada nação contra nação, nem aprenderão mais a guerra”(Is.2:4). Eis nossa esperança!

“Assim diz o Senhor dos Exércitos: Executai justiça verdadeira; mostrai bondade e misericórdia cada um a seu irmão. Não oprimais a viúva, nem o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre, nem intente o mal cada um contra o seu irmão em seu coração”.

ZACARIAS 7:9-10

As viúvas e os órfãos representam para nossa sociedade as classes desassistidas, aqueles para os quais a corda rompe primeiro. Nossa sociedade está cheia de órfãos de pais vivos. Nossas crianças e adolescentes estão crescendo sem qualquer assistência. Embora o Estatuto da Criança e do Adolescente represente um avanço considerável, precisamos de políticas mais eficazes, que promovam uma educação de qualidade para nossos filhos. O que será de uma geração inteira que cresceu aos cuidados da babá eletrônica?

E quanto aos nossos velhos? Até quando morrerão nas filas do INSS? São viúvos do Estado. Estão entregues à própria sorte.

O estrangeiro representa o diferente, o pertencente a outra realidade, outra crença, outra ideologia. É triste constatar como os imigrantes brasileiros são explorados no Exterior. Geralmente, trabalham por menos que o salário mínimo do país.

Uma etnia não tem o direito de dominar pessoas de outra etnia. Não há raças superiores, nem fisica, intelectual, ou espiritualmente.

Também é triste assistir ao crescimento dos bolsões de miséria, das favelas e guetos, habitados por aqueles que deixaram seus rincões, no afã de obterem melhores oportunidades na cidade grande.

“O estrangeiro não afligirás, nem o oprimirás, pois estrangeiros fostes na terra do Egito.” ÊXODO 22:21

“Como o natural entre vós será o estrangeiro que peregrina convosco. Amá-lo-eis como a vós mesmos, pois fostes estrangeiros na terra do Egito. Eu sou o Senhor vosso Deus.” LEVÍTICO 19:34

“Pois o Senhor vosso Deus é o Deus dos deuses, e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita suborno. Ele faz justiça ao órfão e à viúva, e ama o estrangeiro, dando-lhe alimento e vestes. Amai o estrangeiro, pois fostes estrangeiros na terra do Egito.” DEUTERONÔMIO 10:17-19

Deus apela à compaixão. Só podemos nos compadecer daquele que passa por algo pelo qual um dia passamos. Somos um país de imigrantes. Quem não é imigrante, é, no mínimo, filho, neto ou bisneto de imigrante. Os únicos que têm suas raízes fincadas nesta terra há mais tempo são os indígenas. Os demais descendem de europeus, africanos e orientais. Portanto, antes de agirmos com preconceito, ou explorarmos mão-de-obra estrangeira, lembremo-nos de nossos ancestrais.

O trato que Deus ordenou que Seu povo dispensasse ao estrangeiro era de tal ordem, que é usado como referência para o trato que devemos dispensar a nossos irmãos, quando estes atravessarem alguma dificuldade econômica:

“Quando teu irmão empobrecer e as suas forças decaírem, sustentá-lo-ás como a um estrangeiro ou peregrino, para que viva contigo.” LEVÍTICO 25:35

Quem diria... Em vez de o estrangeiro ser tratado como irmão, o irmão que deveria ser tratado como estrangeiro. Porém, hoje, tratar um irmão como se fosse um estrangeiro, seria considerado um total descaso, dado o desprezo com que tratamos àqueles que consideramos diferentes de nós.

Se amamos a liberdade, devemos promovê-la, ainda que isso nos custe a privação momentânea desta mesma liberdade.

Hermes C. Fernandes (WWW.genizahvirtual.com.br)


(Mais uma dos Hereges para pensarmos, meditarmos e reagirmos!)