15 maio, 2010

Sobre Cristãos... ou quase isso...


A questão é simples. A Bíblia é muito fácil de entender. Mas nós, cristãos, somos um bando de vigaristas trapaceiros. Fingimos que não somos capazes de entendê-la porque sabemos muito bem que no minuto em que compreendermos estaremos obrigados a agir em conformidade. Tome qualquer palavra do Novo Testamento e esqueça tudo a não ser o seu comprometimento de agir em conformidade com ela. "Meu Deus", dirá você, "se eu fizer isso minha vida estará arruinada. Como vou progredir na vida?".
Aqui jaz o verdadeiro lugar da erudição cristã. A erudição cristã é a prodigiosa invenção da igreja para defender-se da Bíblia; para assegurar que continuemos sendo bons cristãos sem que a Bíblia chegue perto demais.
Ah erudição sem preço! O que seria de nós sem você? Terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo. De fato, já é terrível estar sozinho com o Novo Testamento.
Antes de falar sobre Jesus, deixe-me falar sobre os que afirmam que o seguem sem saber do que estão falando.
Deixe-me falar de mim.
Sou um farsa, um patife, um mentiroso e um canalha. Sou também um santo em muitos sentidos, mas isso apenas distorce a essencia da mensagem que eu deveria estar transmitindo. Jesus evidentemente não veio para os santos, os intocados, os poupados, os intocáveis, os que merecem uma categoria a parte. Sua paixão é pelos mistos, os imundos, os misturados,os irremediáveis, os caídos, os violados,os atormentados, os não resolvidos. Somente a parte de mim não contaminada pelo meu vício de comportar-me como um santinho pode beneficiar-se do impulso libertador da mensagem de Jesus.
Eu, por minha vez, não tinha nada que estar passando a imagem de um santo. Minha tarefa é transmitir a marca de Cristo, não a imagem de santo - e definitivamente não é a mesma coisa. Em primeiro lugar, a imagem de santo é tão rasa que qualquer canalha pode passá-la para os outros, mesmo os canalhas menos sutis, como eu. Segundo, nada está mais distante da essencia da mensagem de Cristo que gerar nos outros a impressão de que é preciso ser santo em primeiro lugar para poder beneficiar-se adequadamente da gentil onipresença do Reino e da graça. Na verdade, parte do escândalo da mensagem do evangelho está em sua ousadia de afirmar que ser santo não beneficia ninguém, nem mesmo quem é. Sua ousadia em afirmar que Jesus não tem nada a dizer ao que não precisa dele.
"Os sãos não precisam de médico" não quer apenas dizer, como estamos acostumados a pensar, que todos são doentes e por isso precisam de Jesus; também quer dizer que as partes de nós que creem não precisar de intervenção, ou agem como se não precisassem, estão irremedialmente perdidas.
(Bacia das Almas - Paulo Brabo)

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